quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Mulheres invade o sertanejo e alcança as paradas

Nova onda de mulheres invade o sertanejo e alcança as paradas

Artistas como Simone e Simaria cantam músicas sobre amor, traição e bebedeira.

Simone e Simaria, do hit 'Meu violão e nosso cachorro'

RIO — Das Irmãs Galvão e Inezita Barroso a Roberta Miranda e Paula Fernandes, a presença feminina no sertanejo sempre se deu de forma esporádica, apoiada mais no talento individual do que numa busca coletiva por espaço. De uns tempos para cá, porém, um movimento começou a tomar forma no interior do país. E despontou nas paradas de sucessos. Na lista das 100 músicas mais tocadas no Brasil no mês passado, apurada pela Crowley Broadcast Analisys, cantoras/compositoras do gênero chamam a atenção entre o 18º e o 42º lugares.
Pouco conhecidas no Sudeste, elas disputam espaço com Marco & Bellutti, Jorge & Mateus, Henrique & Juliano, entre outros astros de um universo masculino, jovem e festeiro. Cantando o amor, a traição, a sofrência, a farra e a bebedeira, Simone & Simaria (“Meu violão e nosso cachorro”), Maiara & Maraísa (“10%”) Marília Mendonça (“Sentimento louco”) e Paula Mattos (“Quem vê cara não vê coração”) trazem novos ares a um cancioneiro que fala, com sotaque do interior, de um Brasil cada vez mais urbano e acelerado. Segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), Marília também é uma das compositoras que mais arrecadaram direitos autorais em 2015, com “Calma”, gravada por Jorge & Mateus; e “Faça ela feliz (Cuida bem dela)” e “Até você voltar”, ambas por Henrique & Juliano.

MAIARA E MARAÍSA
As gêmeas de 28 anos, nascidas em São José dos Quatro Marcos (MT), cantam desde pequenas, mas foi a composição que as fez ser notadas por expoentes do novo sertanejo como Jorge & Mateus e Cristiano Araújo, que gravaram, respectivamente, “Prisão sem grade” e “Caso indefinido”.

_Independentemente de ser mulher, o que faz a dupla é o repertório — prega Maiara. — Era difícil, no mundo masculino do sertanejo, achar uma música que falasse da nossa realidade, por isso começamos a escrever a nossa história. Quase sempre o que chegava eram letras enaltecendo os homens.

Uma das exceções no repertório da dupla foi justamente “10%”, de Gabriel Agra e Danilo Dávilla (“Tô escorada na mesa/ confesso que eu quase caí da cadeira/ e esse garçom não me ajuda/ já trouxe a 20ª saideira”).

— Não curto muito esse trem da cachaça, mas minha irmã é mais espertinha e se apaixonou pela música — conta Maiara.


SIMONE & SIMARIA
— Temos alguns anos de sucesso no Nordeste, cantando forró, e agora, com o “Bar das coleguinhas”, conseguimos atingir outras partes do país — festeja Simone Mendes, 33, que canta com a irmã, Simaria, 31. — O sonho do nosso pai era nos ver cantando sertanejo. E desde que começamos a fazer esse segmento de 20 minutos (de sertanejo) no show, a coisa mudou, começamos a ser chamadas para fazer TV e cantar em outras partes do Brasil.

Simone & Simaria começaram a cantar ainda crianças, em Uibaí, na Bahia, onde nasceram. Percalços financeiros (e a morte do pai) as levaram para Mato Grosso e São Paulo, onde Simaria (“o maior talento para composição da dupla”, diz a irmã) passou a trabalhar com Frank Aguiar.

— Essa modernização que o sertanejo sofreu nos últimos anos pegou do forró. Sertanejos e forrozeiros passaram a gravar músicas uns dos outros — conta Simone. — Nossas letras falam das coisas pelas quais as pessoas passam, é o que o povo quer ouvir.

“Meu violão e o nosso cachorro” foi feita por Simaria com o parceiro Nivardo Paz “num momento de sofrência dos dois”, conta Simone. É o maior sucesso do DVD “Bar das coleguinhas”.

— Logo depois de terem feito a música, eles começaram a chorar, porque viram como ela era forte — recorda-se a cantora. — Nossas músicas não são só direcionadas às mulheres, às vezes cantamos como um homem. Porque hoje em dia, a mulher está pior do que eles. Ela diz que vai fazer unha e, quando você vê, está saindo para trair o marido.

MARÍLIA MENDONÇA
Aos 20 anos, Marília Mendonça é conhecida como a “nenenzinha” da turma. Nascida em Cristianópolis (GO), ela começou a compor aos 12.

— Eu cantava na igreja, mas não era tão boa naquilo. Então, comecei a escrever num caderninho as minhas histórias com namoradinhos e entrei para uma aula de violão. Com os quatro acordes que aprendi fiz minha primeira música. Era “Minha herança”, que foi gravada pela dupla João Neto & Frederico — conta. — Sempre tive vontade de cantar, mas tinha muito medo de acabar fazendo uma carreira de um CD só.

Autora do hit “Faça ela feliz (Cuida bem dela)”, de Henrique & Juliano, Marília lançou seu primeiro DVD só em 2015:
- Eu sabia que tinha que conquistar as mulheres, são elas que lotam os shows de sertanejo. Preciso que elas se identifiquem com as músicas, dizer o que elas querem ser, como querem se comportar.


PAULA MATTOS
— Hoje há menos barreiras do que na época da Roberta Miranda e na da Paula Fernandes. O mercado do sertanejo veio se abrindo para as mulheres no último ano, a gente tem que aproveitar — observa Paula Mattos, artista nascida em Campo Grande (MS) há 26 anos. — Componho desde os 12 anos e canto desde os 15. Minhas músicas não são femininas, não é só papo de mulher ou papo de homem, é geral. Não fico pensando no artista para quem vou compor, eu só deixo a música vir. Não tem tanta diferença, você tem que falar a sua verdade.

Gravada por Gusttavo Lima (“Doidaça”), Marcos & Belutti (“Irracional”) e Henrique & Juliano (“Separa, namora”), Paula dá os seus primeiros passos na carreira de intérprete com muita cautela.

— A sofrência está em alta, mas tem que tomar cuidado. Acho que a mulher tem que se valorizar, ser feliz. Ela quer curtir, ela quer beber, quer viver uma sofrência legal — diz.


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